segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Déjà vu

Cheguei a Nong Khai. Não dei grandes hipóteses ao esperado ataque dos tuk-tuks ao único falangue* que chegou. Parei num sítio para comer onde tinha estado quatro anos atrás com a Lisa. À espera do menu e sem trocar uma única palavra com as empregadas, trouxeram-me uma espécie de canja de galinha. Imaginei muitas das pessoas que conheço, indignadas e a quererem uma explicação. Isto é a Tailândia e retribuí o sorriso. A sopa estava óptima.
É uma sensação estranha, apanhar o mesmo autocarro, ser recebido na casa de hóspedes pelo mesmo amigo (o Tom), mesmo já não trabalhando aqui, e ser colocado exactamente no mesmo quarto.
A cidade não me pareceu tão brilhante e a temperatura está admiravelmente mais baixa.
Recebi alguns sorrisos e um estranho até me cumprimentou e quis saber se precisava de dinheiro para comer. Desconfiei claro, mas é a pura generosidade tailandesa a que já não estava habituado.
Reencontrei amigos num ambiente de copos que já não é o meu mas que não me faz sentir tão sozinho.
Admito que a sensação de deixar tudo para trás, de perder tudo, me sabe bem.
É como ter uma folha de papel em branco e a ponta da esferográfica encostada sem a poder levantar. O que for desenhado a partir desse ponto virá dentro de mim e de mais nada.

*palavra usada pelos tailandeses para se referirem aos estrangeiros. Tipo "camones".



I got to Nong Khai. I gave no chances to the expected tuk-tuk attack over the only falang that arrived. I stopped at a place to eat where I'd been with Lisa four years ago. Waiting for the menu and without exchanging a single word with the waitresses, they brought me some kind of chicken soup. I imagined many of the people I know, outraged, and wanting an explanation. This is Thailand and I returned the smile. The soup was great.
It's a strange feeling, to take the same bus, be greeted at the guest house by the same friend (Tom), even no longer working here, and be placed exactly in the same room.
The city didn't look so bright and the temperature is surprisingly lower.
I received some smiles and a stranger even greeted me and asked if I needed money to eat. I suspected of course, but it was the pure Thai generosity that I wasn't used to anymore.
I found friends in a bar environment that it's no longer mine but doesn't make me feel so lonely.
I admit that the feeling of leaving everything behind, of losing everything, is good to me.
It's like having a blank sheet of paper and the tip of the pen leaning against it without being able to lift it. Whatever is drawn from that point will come from within me and from nothing else.

* Word used by Thais to refer to foreigners.

Sem comentários:

Enviar um comentário